Por vezes o nevoeiro que entorpece a nossa visão não nos deixa ouvir o brilho de um olhar, mas se parares um pouco à espreita, e escutares com atenção, vais conseguir ver até o bater de um coração.
Gostaria que um dia, um dia qualquer, perdido algures entre o ontem e o amanhã pudesses voar sobre o mar com as asas que eu te dou, olhasses pra mim e cantasses: "é assim que eu sou".
Não procuro respostas quando faço perguntas, gostava apenas que a luz das palavras não anoitecesse na couraça antes da tua pele...
Não sou eu que não vejo o livro que és, mas tu que não me ensinas a lê-lo, não cedes o código que decifra o mistério dos sons e dos olhares, para seguir depois da capa e quem sabe reescrever o prefácio.
E assim fico... no teu olhar perco a força.
Porque não deixas o desejo arder? Talvez assim que queimado faça sinais de fumo... E como numa outra vida fui índio, saberei então decifrá-lo.
choro, pois não acho a razão
não encontro nas palavras sinónimo da tua ação
eu sou um pequeno pó, uma palha deixada na eira
todos dizem que me querem, mas deixam-me a arder na fogueira
ficam só umas cinzas que o vento levantou
e de novo assim dispersa, tento saber quem sou.
Mais uma vez junto as folhas, ordeno a numeração
olho então para meu peito e pergunto:
Como estás meu coração?
...sente-se velho triste e cansado, sem força para bater
mas sempre que te olha tem vontade de viver
Seriam belas as tuas palavras, belas como um jasmim
e também elas um dia teriam o seu fim.
Tento alcançar tua mão, mas não é nevoeiro o que me impede
é um brilho no teu dedo que me cega ao de leve
não me prende na escuridão traz-me antes à realidade
que depois da curiosidade
perderás tua vontade.
ergo meus escudos como um símbolo de vitória
só assim sobreviverei ao tempo na tua memória.
Se sou eu que te encanto, se sou eu que te animo
porque tenho de ter regras para te poder dar um mimo?
Porque tenho de ter um horário, porque tenho de ter um espaço...
dás-me asas mas são cortadas e trancas-me numa gaiola de aço
Eu não sou um rouxinol, não me queiras enganar
Se quiseres escrever num livro, alguém tens que abandonar.