Vivemos numa sociedade que nos obriga a ser máquinas calculistas para desempenhar papeis de produtores de riqueza (alheia). Vivemos num mundo onde a particularidade é esmagada pela necessidade de sermos idênticos a um protocolo de eficiência. Vivemos embrenhados em tarefas desumanizadas, apáticas e sem valor real.
Somos obrigados a despirmo-nos da empatia, do amor, da tranquilidade, da apreciação, do conforto familiar e da virtude individual, dos dons e dos defeitos que nos tornam tão únicos e especiais. Somos obrigados a abdicar do nosso tempo, da nossa paz, da nossa felicidade...em prol de quê?
Da ganância de um sistema que não sabe distribuir igualdade, direitos ou apoio. Em prol de uma máquina, na qual cumprimos o lugar de engrenagens, mas onde não somos alimentados, apenas sugados até ao desgaste total, num frenesim ditatorial e escravizante, iludidos com sonhos vendidos de que a felicidade está ali ao virar da esquina: no carro da moda, na viajem ao paraíso, na casa de arromba, no estatuto de sucesso...
e vendemos a nossa vida a prestações, nas prestações da doença física, das depressões, dos ansiolíticos, dos divórcios, do isolamento da família...inebriados pelo marketing, envenenados pelas seitas religiosas, desportivas e políticas, condicionados por instituições educativas decadentes e corrompidas por lóbis e negócios...
a todo a hora morremos mais um pouco, perdemos a noção de nós e onde pertencemos na realidade. Vivemos numa sociedade onde não existe espaço para ser mãe, para ser irmão, para ser filho, para ser aprendiz ou professor, para ser avô, pai e tio, para ser amigo, vizinho, conselheiro, para ser ajudante ou ajudado, para ser conforto ou reconfortado, para ser o abraço da saudade ou do carinho...
para ser tempo de poder ser.
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