terça-feira, 16 de julho de 2024

Falado

 Mais uma vez aqui, no limiar do suportável. Aqui, onde ninguém me vê, ninguém me toca, ninguém me ouve e ninguém me ama.

Lá também não me entendem, ao menos aqui procuro entre o entulho, as parte de quem eu possa ser.

A tristeza é um gumo demasiado afiado...

Eu queria chegar lá, procuro um caminho...mas...os meus pés não sabem tocar o chão...acabo sempre aqui...

E sonho o amor, mas são só palavras...são só palavras...sem sementes, sem raízes...

Sou inamável.

Eles não sabem...e eu sonho.

Por momentos parece que tudo é como deveria...como eu deveria sentir-me...

Mas é só uma ilusão...são só palavras, e as palavras não têm sentimentos. 

domingo, 2 de junho de 2024

Saudades tuas

 Saudades tuas,

Saudades dos teus olhos, das tuas palavras, do som da tua voz quando me desejas boa noite.

Saudades desse abraço imprevisivel, desse sorriso genuíno...Saudades de saber que estarás sempre aqui.

Mas não estás, nunca estiveste, ou eu nunca estive lá...os nossos passos nunca se cruzaram.

Sou meramente uma sombra trespassada pelo tempo, imutável, impaciente, impenetrável. 

Sem ti, o Sol e a Lua são um só astro, navegando no firmamento, carregando os anos da tua ausência.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O valor

 Onde reside o valor de cada um de nós?

Nas palavras que proferimos, por vezes esgotadas pelo cansaço, pela dor, por vezes inconsequentes pela leveza da alegria?

Nas acções que levamos a cabo, pelo esforço em alcançarmos os nossos sonhos, pela cegueira da desilusão, da inveja ou do ódio, pela sua grandeza quando nos deixamos enebriar pela paixão?

Tudo é volátil e inconstante. Então onde encontrar essa preciosa constante do valor de um ser humano?

Estará na sua perseverança em lutar por se manter fiel a princípios, valores e morais que são descritos universalmente como correctos?

Estará na sua perseverança em se manter fiel a si mesmo, sem o guia da sociedade?

Onde está o valor de cada um? É no preço impagável pela ajuda que se presta a dar dentro de determinadas condições?

É na ambiguidade da sua empatia? Da sua inteligência? Na ambiguidade da sua busca incansável por um momento melhor, mais perfeito, mais feliz?

Estará o valor intrinsecamente ligado à sua forma de estar, ora um autómato civilizado e cumpridor dos seus deveres, leis e subjugado a autoridades laborais e políticas, ora um génio incompreendido que desbrava o desconhecido quebrando regras até desvendar uma nova invenção?

Onde está esse valor? Estará no dia em que constrói ou no dia em que destrói? No dia em que planta e nutre, ou no dia que mata? No dia em que sorri, ou no dia em que as lágrimas lhe turvam a vista? Estará no dia em que toma coragem e avança? Ou no dia que cai derrotado? 

Estará o valor na sua fé? Na sua esperança? Nas crenças que o empurram a erguer-se diariamente, ou nas crenças que o limitam e definham?

Talvez o valor esteja naquilo que entrega, talvez não esteja em si próprio, mas na abdicação. Quando abdica de ser o único, quando abdica de ser o melhor, o maior, o tal... Quando entrega o que sabe e o que tem... 


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A indecisão

 Hoje, hoje.

Não ontem ou nos dias passados,

Hoje, há minutos atrás,

No momento que antecedeu a eu ter coragem para escrever aqui.

Há pouco foi o princípio de uma mudança, aconteceu diante dos meus olhos, soou nos meus ouvidos, senti-o, vivi-o da melhor forma que consegui... O meu cérebro ainda tenta processa a dimensão da questão, o real peso e o que está ou não no meu controle.

O que posso fazer, se há algo a fazer, ou se é apenas um reflexo momentâneo que se desvanecerá. 

Há pouco deixei de ser filha, fui apenas alguém que cuidava, pois o meu pai não me reconheceu. Colocou as suas mãos na minha cara, passou-as pelos pontos da minha face semelhantes aos da filha dele, mas eu continuei sem ser a sua filha. 

Perguntei-lhe se sabia o quanto a sua filha gosta dele. Respondeu-me: muito. 

Apaziguei o meu coração, pois mesmo que não me reconheça, sabe o quanto gosto dele. 

Amanhã é outro dia. Espero que vivido com memória. 


quarta-feira, 21 de setembro de 2022

A ilusão

 O tempo é uma ilusão. Num momento estás bem, a vida parece um sonho, tudo o que desejas se concretiza... Noutro momento, a inevitabilidade da vida arrasta-te pelas lamacentas águas da enxorrada de tragédias... Vais aos trambolhões e encontrões com os destroços daquilo que cessou de existir, tentas respirar, tentas manter-te à tona de água, mesmo a corrente sendo forte... Tentas perceber o que está a acontecer, como te adaptares...mas a corrente não pára... O tempo não pára, mas estende-se em milésimos de segundos... Onde em câmara lenta consegues te aperceber dos mais ínfimos promenores... Como, por exemplo, as pequenas alegrias que outrora te faziam sorrir,  a afundarem-se como chumbo nesse rio turvo e a transbordar.

Não percas o foco, o tempo, pois logo de seguida outro destroço quase te arranca a cabeça.

A inevitabilidade da vida chega a todos, mesmo aqueles entretidos nos seus casulos de ilusões... 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Para o Nada

 Escrevo para o vazio, como um diário à deriva no éter, escuro e frio.

Escrevo porque não falo... Porque não há ninguém para me ouvir e porque não tenho nada para dizer...

Mas escrevo, para soltar de mim a angústia, o peso da vida, escrevo na ânsia de encontrar uma frase que ilumine o meu dia, que me sirva de farol enquanto o Sol brilha.

Talvez hoje não seja esse dia. Num outro qualquer, voltarei a escrever. 

Por ali

 Quando era pequena, não queria crescer, não queria. Queria ser criança para sempre, mesmo sentindo-me  inadaptada, sem amigos, ou alguém com quem me sentisse bem e protegida.

Mas crescer é inevitável, assim como foram inevitáveis as dores e sofrimentos... físicos e emocionais.

Fui seguindo a minha vida, por onde o coração me levava, inevitavelmente só, pois as pessoas afastam-se do que não compreendem e eu não sei ser de outra forma.

Só sei amar profundamente, ou esquecer.

Talvez a profundidade do meu amor assuste as pessoas e talvez a superficialidade do amor dos outros me os faça esquecer.