terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O valor

 Onde reside o valor de cada um de nós?

Nas palavras que proferimos, por vezes esgotadas pelo cansaço, pela dor, por vezes inconsequentes pela leveza da alegria?

Nas acções que levamos a cabo, pelo esforço em alcançarmos os nossos sonhos, pela cegueira da desilusão, da inveja ou do ódio, pela sua grandeza quando nos deixamos enebriar pela paixão?

Tudo é volátil e inconstante. Então onde encontrar essa preciosa constante do valor de um ser humano?

Estará na sua perseverança em lutar por se manter fiel a princípios, valores e morais que são descritos universalmente como correctos?

Estará na sua perseverança em se manter fiel a si mesmo, sem o guia da sociedade?

Onde está o valor de cada um? É no preço impagável pela ajuda que se presta a dar dentro de determinadas condições?

É na ambiguidade da sua empatia? Da sua inteligência? Na ambiguidade da sua busca incansável por um momento melhor, mais perfeito, mais feliz?

Estará o valor intrinsecamente ligado à sua forma de estar, ora um autómato civilizado e cumpridor dos seus deveres, leis e subjugado a autoridades laborais e políticas, ora um génio incompreendido que desbrava o desconhecido quebrando regras até desvendar uma nova invenção?

Onde está esse valor? Estará no dia em que constrói ou no dia em que destrói? No dia em que planta e nutre, ou no dia que mata? No dia em que sorri, ou no dia em que as lágrimas lhe turvam a vista? Estará no dia em que toma coragem e avança? Ou no dia que cai derrotado? 

Estará o valor na sua fé? Na sua esperança? Nas crenças que o empurram a erguer-se diariamente, ou nas crenças que o limitam e definham?

Talvez o valor esteja naquilo que entrega, talvez não esteja em si próprio, mas na abdicação. Quando abdica de ser o único, quando abdica de ser o melhor, o maior, o tal... Quando entrega o que sabe e o que tem... 


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A indecisão

 Hoje, hoje.

Não ontem ou nos dias passados,

Hoje, há minutos atrás,

No momento que antecedeu a eu ter coragem para escrever aqui.

Há pouco foi o princípio de uma mudança, aconteceu diante dos meus olhos, soou nos meus ouvidos, senti-o, vivi-o da melhor forma que consegui... O meu cérebro ainda tenta processa a dimensão da questão, o real peso e o que está ou não no meu controle.

O que posso fazer, se há algo a fazer, ou se é apenas um reflexo momentâneo que se desvanecerá. 

Há pouco deixei de ser filha, fui apenas alguém que cuidava, pois o meu pai não me reconheceu. Colocou as suas mãos na minha cara, passou-as pelos pontos da minha face semelhantes aos da filha dele, mas eu continuei sem ser a sua filha. 

Perguntei-lhe se sabia o quanto a sua filha gosta dele. Respondeu-me: muito. 

Apaziguei o meu coração, pois mesmo que não me reconheça, sabe o quanto gosto dele. 

Amanhã é outro dia. Espero que vivido com memória. 


quarta-feira, 21 de setembro de 2022

A ilusão

 O tempo é uma ilusão. Num momento estás bem, a vida parece um sonho, tudo o que desejas se concretiza... Noutro momento, a inevitabilidade da vida arrasta-te pelas lamacentas águas da enxorrada de tragédias... Vais aos trambolhões e encontrões com os destroços daquilo que cessou de existir, tentas respirar, tentas manter-te à tona de água, mesmo a corrente sendo forte... Tentas perceber o que está a acontecer, como te adaptares...mas a corrente não pára... O tempo não pára, mas estende-se em milésimos de segundos... Onde em câmara lenta consegues te aperceber dos mais ínfimos promenores... Como, por exemplo, as pequenas alegrias que outrora te faziam sorrir,  a afundarem-se como chumbo nesse rio turvo e a transbordar.

Não percas o foco, o tempo, pois logo de seguida outro destroço quase te arranca a cabeça.

A inevitabilidade da vida chega a todos, mesmo aqueles entretidos nos seus casulos de ilusões... 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Para o Nada

 Escrevo para o vazio, como um diário à deriva no éter, escuro e frio.

Escrevo porque não falo... Porque não há ninguém para me ouvir e porque não tenho nada para dizer...

Mas escrevo, para soltar de mim a angústia, o peso da vida, escrevo na ânsia de encontrar uma frase que ilumine o meu dia, que me sirva de farol enquanto o Sol brilha.

Talvez hoje não seja esse dia. Num outro qualquer, voltarei a escrever. 

Por ali

 Quando era pequena, não queria crescer, não queria. Queria ser criança para sempre, mesmo sentindo-me  inadaptada, sem amigos, ou alguém com quem me sentisse bem e protegida.

Mas crescer é inevitável, assim como foram inevitáveis as dores e sofrimentos... físicos e emocionais.

Fui seguindo a minha vida, por onde o coração me levava, inevitavelmente só, pois as pessoas afastam-se do que não compreendem e eu não sei ser de outra forma.

Só sei amar profundamente, ou esquecer.

Talvez a profundidade do meu amor assuste as pessoas e talvez a superficialidade do amor dos outros me os faça esquecer. 

domingo, 7 de agosto de 2022

Não há porquês

 Hoje sonhei contigo.

Não te posso contar, mas tenho de o escrever, pois a felicidade invadiu-me e apesar de tu não me queres na tua vida, tenho que libertar de mim esta emoção.

Estavas dislumbrante, como da primeira vez que te vi. Sorrias. Era um sorriso reconfortante, pois era para mim que sorrias, era por causa de mim que não conseguías evitar esboçar com os teus lábios o prazer e contentação de estarmos ao pé um do outro. Era maravilhoso sentir-te tão presente, ver a atenção no teu olhar, sentir a forma carinhosa com que me falavas, como me contavas e mostravas as tuas colecções.

Apesar de sermos só amigos, fizeste-me sentir especial.

É isso que anseio, sentir-me especial na vida de alguém. Mas não na vida de qualquer um... Queria ser especial na vida da minha filha, na vida do meu pai e na tua.

Depois de ter saído de tua casa, o mundo parecia reluzir com outras cores, mais vivas, luminosas, parecia até que a realidade se tinha tornado mais nítida.

No dia seguinte ligaste-me, convidaste-me para irmos sair e pediste cuidadosamente que levasse um vestido de gala... Rio-me agora, pois na realidade nem vestidos tenho, quanto mais de gala.

Quando me vieste buscar à porta de casa, devo me ter apaixonado 3 vezes ao mesmo tempo. Vinhas de smoking... Uau, que visão estrondosamente impactante e bela... Mesmo sendo um sonho, nunca me irei esquecer da tua imagem... Quis te beijar ali, mas éramos só amigos. A tua boa disposição era contagiante...

Depois acordei e se embora por alguns segundos me sentisse feliz, depressa a minha realidade me esmagou.

Percebo que não sei fazer os outros sentirem-se especiais, percebo que nunca vais lêr estes desabafos da minha alma, percebo que não te interessa que sejamos amigos. Percebo que a minha vida é tudo aquilo que ninguém quer viver... Nem por amor... A não ser que fosse um amor doentio...

Eu sou assim estranha, a vida moldou-me com dor, perda, desamparo e solidão... Quero aprender a ser de outra maneira, quero aprender a libertar-me desta amargura, deste sentido de que vivo injustiçada, quero largar as armas, as armaduras, esta carga da desconfiança, do medo...

Só queria que o peso dos dias, dos pensamentos, das emoções, fosse diferente.

Queria ser mais ágil, menos exigente, menos perfeccionista... Queria sentir-me feliz com o que existe... Mas não consigo.

Restam-me os sonhos e não esperar por nada.

Beijos para ti, que encontres a tua felicidade. 

sábado, 30 de julho de 2022

 O que é a fé? Acreditar em algo que não vemos, não temos, não tocamos, não ouvimos, não cheiramos, não saboreamos? A fé é um bocado parecida com a espectativa... E vamos seguindo os dias na espectativa de amanhã ser melhor, de surgir algum acontecimento que nos salve de algo... Uma outra forma de pensar, uma nova força, uma palavra de alguém, um gesto... Enquanto mergulhamos em nós em busca de respostas... Um mergulho solitário.

Conjugo memórias e análises como se buscasse encontrar o código para abrir os portões do meu caminho... Mas não o vejo... Sei que deve estar por aí, pois todos têm um... e dou sempre comigo a percorrer uma estrada que não me leva a nenhum lado... Embrulho a troxa, faço o farnel e volto a procurar... O que falta aqui? Fé? 

domingo, 24 de julho de 2022

Amor

 Tenho saudades do Amor, saudades de o exprimir livremente como folhas soltas ao vento num fim de tarde soalheira de Outono. Um amor doce, aconchegante, onde dentro dele todos os sonhos se concretizam, onde a leveza dos olhares trocados, das carícias, nos fazem sentir que nenhum mal do mundo nos pode atingir.

Tenho saudades do Amor, esse amor que rejuvenesce a alma, que faz brilhar os olhos como se a inocência e a curiosidade da nossa criança interior, revestisse de novo os dias.

Tenho saudades do teu abraço, esse único abraço que me fez sentir que nunca antes tinha sido abraçada. Um abraço tão consciente, tão presente, tão infinitamente protector e carinhoso. Esse teu abraço... Esperei tanto por ele, não sabia nem onde nem quando o ia encontrar... Era o teu.

Nada mais trocámos, nem antes, nem depois...pois este Amor é somente meu, solitário e desmembrado.

Apenas restam as tuas palavras, sem amor, vincadas pelo azedume com que a vida te temperou, pelos enganos e desilusões.

E sinto que sofres, nos intervalos da tua paz autoproclamada, nos intervalos de uma agenda sempre lotada... Para esconder a tua dor. 

Talvez esteja enganada, talvez seja só eu que sofra pela falta deste amor, que foi por ti proclamado morto antes de nascer... Talvez só eu consiga amar por entre as brechas dos destroços da minha vida... Essas brechas pelas quais não me consegues ver... E se me visses? Não este corpo, não as minhas palavras, não os meus actos, mas a minha alma. 

Estou corrompida também pela dor, pelo medo, pela raiva... Pela falta de fé... Fujo e quero apagar as emoções e no descontrole do processo de querer ser mais forte e mais capaz, transformo em gelo o que digo e o que faço, como se da minha boca saíssem mil névoas árticas e com as minhas mãos apenas construisse icebergues. 

Ninguém me vê... No fundo eu também não deixo o amor passar... Mas quero tanto, queria tanto conseguir levar até ti a doçura do meu amor, queria tanto quebrar este invólucro que me aperta o peito e me sufoca este Amor. 

E se o visses? Se te pudesse oferecer um desenho onde para ti tudo se tornasse transparente, como uma visão lúcida do que sinto quando te vejo, quando te oiço, quando anceio pela tua atenção. 

Poderia desenhar a profundidade do teu pensamento, a ternura do teu sorriso, a força que te mantém firme nos teus ideais, projectos... Essa mesma força com que me afasta... Mas que não me deixa de deslumbrar. 

Tenho saudades deste Amor que contigo não vivi, que me persegue pelos anos, pelo desconhecido, que me persegue desde que o Amor não era um conceito. 

Queria ser o cálice extasiante com o qual se evaporasse o azedo negrume da tua visão. Queria ser uma plumagem que suavemente acentava na tua vida, como num lago espelhado, onde não há ondulação. Queria ser a semente de um nenúfar, que das entranhas lamacentas fosse desabrochando em ti, para gerar uma maravilhosa emoção.

 És mais do aquilo que eu sei e mais do que aquilo que em ti reconheces. És um homem de uma raridade e particularidade absolutamente inconfundíveis. Tal e qual o meu Amor. 


segunda-feira, 2 de maio de 2022

Os sonhos

 Tenho poucos sonhos, alguns já muito velhos e remendados, mas ainda com a ansia de serem concretizados.

Sonhos novos... Já não os tenho, de que serve criar novos se os velhos nunca foram usados? 

Às vezes parecem surgir, por entre os meandros do pensamento, vontades e projectos ainda por alcançar. Mas depressa perdem ânimo, pois neste tempo que escapa, pouco mais há a desejar. 

domingo, 20 de março de 2022

terça-feira, 8 de março de 2022

Infinity

 You are me, and I am you, we will never be apart.

We traveled together through the emptiness, through the time and space. We saw love, hate, oblivious and inevitability.

We fought worlds extinction, and the simmer of the emotions.

We do not end, and we have no beginning, together, we are a circle of infinity.