Tenho saudades do Amor, saudades de o exprimir livremente como folhas soltas ao vento num fim de tarde soalheira de Outono. Um amor doce, aconchegante, onde dentro dele todos os sonhos se concretizam, onde a leveza dos olhares trocados, das carícias, nos fazem sentir que nenhum mal do mundo nos pode atingir.
Tenho saudades do Amor, esse amor que rejuvenesce a alma, que faz brilhar os olhos como se a inocência e a curiosidade da nossa criança interior, revestisse de novo os dias.
Tenho saudades do teu abraço, esse único abraço que me fez sentir que nunca antes tinha sido abraçada. Um abraço tão consciente, tão presente, tão infinitamente protector e carinhoso. Esse teu abraço... Esperei tanto por ele, não sabia nem onde nem quando o ia encontrar... Era o teu.
Nada mais trocámos, nem antes, nem depois...pois este Amor é somente meu, solitário e desmembrado.
Apenas restam as tuas palavras, sem amor, vincadas pelo azedume com que a vida te temperou, pelos enganos e desilusões.
E sinto que sofres, nos intervalos da tua paz autoproclamada, nos intervalos de uma agenda sempre lotada... Para esconder a tua dor.
Talvez esteja enganada, talvez seja só eu que sofra pela falta deste amor, que foi por ti proclamado morto antes de nascer... Talvez só eu consiga amar por entre as brechas dos destroços da minha vida... Essas brechas pelas quais não me consegues ver... E se me visses? Não este corpo, não as minhas palavras, não os meus actos, mas a minha alma.
Estou corrompida também pela dor, pelo medo, pela raiva... Pela falta de fé... Fujo e quero apagar as emoções e no descontrole do processo de querer ser mais forte e mais capaz, transformo em gelo o que digo e o que faço, como se da minha boca saíssem mil névoas árticas e com as minhas mãos apenas construisse icebergues.
Ninguém me vê... No fundo eu também não deixo o amor passar... Mas quero tanto, queria tanto conseguir levar até ti a doçura do meu amor, queria tanto quebrar este invólucro que me aperta o peito e me sufoca este Amor.
E se o visses? Se te pudesse oferecer um desenho onde para ti tudo se tornasse transparente, como uma visão lúcida do que sinto quando te vejo, quando te oiço, quando anceio pela tua atenção.
Poderia desenhar a profundidade do teu pensamento, a ternura do teu sorriso, a força que te mantém firme nos teus ideais, projectos... Essa mesma força com que me afasta... Mas que não me deixa de deslumbrar.
Tenho saudades deste Amor que contigo não vivi, que me persegue pelos anos, pelo desconhecido, que me persegue desde que o Amor não era um conceito.
Queria ser o cálice extasiante com o qual se evaporasse o azedo negrume da tua visão. Queria ser uma plumagem que suavemente acentava na tua vida, como num lago espelhado, onde não há ondulação. Queria ser a semente de um nenúfar, que das entranhas lamacentas fosse desabrochando em ti, para gerar uma maravilhosa emoção.
És mais do aquilo que eu sei e mais do que aquilo que em ti reconheces. És um homem de uma raridade e particularidade absolutamente inconfundíveis. Tal e qual o meu Amor.